Liberdade de Areia
* Do meu livro Poemas ao Silêncio.
Atingiras, sem pretensões,
O ápice da sabedoria egípcia
E vivias agora o suave enlevo
Da verdade que ostentavas
E que tão humildemente trazias no peito,
Como um troféu...
Nunca o mundo vira guerreiro mais valente
E audacioso, porém, consciente da justiça
E da posição que ocupava.
Trazias preso ao pescoço
O símbolo mágico da sua hierarquia e origem,
Contudo, amavas a liberdade
E a imensidão do deserto
Que cercava o vale.
Amavas o sol...
Que queimava a areia branca do deserto
E ardia a pele daquele povo
Guerreiro e forte,
Mas sabias que tudo era efêmero,
Como efêmero era o vento
Que do norte soprava
Acariciando as dunas
E fustigando a multidão.
Sentias, entretanto, feliz
Porque tinhas as noites lindas de luar
Para no deserto cavalgar,
Mergulhando no silêncio das dunas,
Sob um céu de estrelas.
Amavas perdidamente o deserto,
Tanto quanto eu...
E nunca imaginaras a saudade
Que um dia, distante, sentirias,
Daquelas noites quentes do deserto,
Das tendas armadas nos oásis
Perdidos no tempo, entre um rajar de vento
E uma tempestade de areia.
Eram lindos aqueles dias
E tu sabias, tão bem quanto eu,
Que em breve tudo mudaria.
Não teríamos mais a tranqüilidade do deserto
Para afogarmos nossa ânsia
De espaço a liberdade.
A dinastia reinante perecia
E com ela se esvaiam os nossos doces momentos
De paz e poesia.
Logo, a ira do Faraó cairia sobre o seu povo
E o destruiria...
E, junto, todo o amado Vale sofreria,
Porque a Terra inteira nesse ponto consistia.
Quantos anos se passaram!
Quantos dias já se foram!
Quantas vidas já tivemos!
E, apesar de tudo,
De todas as formas que tomamos,
Conservamos, ainda, intacta
A saudade dos dias de areia,
Que há muito já se foram
E no tempo se perderam!